terça-feira, 27 de dezembro de 2011

RENOVAR-SE

                  Nem sempre que a chuva cai ela me molha, as vezes estou protegido por paredes que acham que me protegem, mas, na verdade me prendem. Eu desejo fielmente que a chuva me molhe todas as vezes que ela cai. Seu som me acalma me traz paz! É uma música que preenche os cantos vazios da minha vida... A chuva é uma forma de música doce para quem viveu tantos anos em uma solidão interior, pra quem viveu no mundo, mas não estando necessariamente no mundo.
                É tão doce a forma como as gotas tocam o chão. É tão inovadora a forma como acontece... Como toda a dor, ela vem e tira a cor das coisas dando uma tonalidade acinzentada a tudo, todo sofrimento, toda a mágoa e frustração... Toda aquela sujeira das paredes que deixam o quarto imundo e feio, tudo é coberto por um tom cinza. E aí o vento vem, varre a sujeira, mexe a poeira, começa calmo e se agita, e se fortalece, mesmo que às vezes não passe de uma simples brisa. Tão logo em seguida, das nuvens cinza vem às gotas, serenas e límpidas. São como lágrimas doces de lembranças dos tempos que teimamos em manter esquecidos, mas quando vem nos arrancam um leve sorriso...
                E aí começa, as gotas caem e trazem o som que alimentam as lembranças. As gotas vão caindo, se espalhando, tocando sua música, lavando as paredes, o chão, o coração... Quando a chuva toca a pele, lava a cabeça, o corpo, a alma, lava a tristeza! Quando estou trancado, lava as lembranças... E depois ela escorre, levando os tons de cinza, as mágoas, as lembranças ruins, as tristezas... Ela leva toda a lama pra longe, distante do coração. Antes de partir, ela tinge o céu em sete cores e o sol faz questão de espalhá-las e assim, aos poucos, as cores vão tomando seu lugar, desfazendo o tom de cinza. As folhas se tornam novamente verdes, o céu novamente azul e os sorrisos novamente lindos! Sem resquícios de sujeira. 
                Sentir as gotas de chuva na pele, lavando a dor e trazendo as cores da alegria infinita é algo que eu desejo a todo dia, tão logo alguma coisa ruim insista em querer manchar as paredes da minha vida, mas às vezes estamos presos a uma falsa sensação de segurança, atrás de paredes invisíveis que nos priva dessa limpeza... Então nos resta o som da chuva, que traz a lágrima que limpa as paredes sujas do nosso coração... São coisas que eu apenas falo sozinho!