domingo, 27 de novembro de 2011

A Carta do Cacique Seattle, em 1855

Algo para se pensar:


Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A carta:

    "O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
    Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
    Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.
    Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."



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segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A ARTE DE "SER DIFERENTE"

 Lembro-me de quando decidi pintar meu quarto, não sabia ainda que cor, mas as paredes brancas me enjoavam, eu não sentia que aquele espaço estava “à minha cara” então eu disse, vou pintar meu quarto! Porém, as pessoas me desencorajaram logo de inicio, ouvi muitos não, mas nenhum eu te ajudo... Enfim, comprei as tintas e pintei! Lembro-me que cometi todos os erros possíveis que se faz até entender como funcionava o negócio. Para fazer os desenhos resolvi cortar os moldes já colados na parede e o estilete cortou a tinta, fui descascar a parte pra repintar acabei tirando a tinta da parede toda (ainda hoje rio disso), repintei e escolhi fazer da forma mais difícil, desenhar traço a traço, nas quatro paredes e só então aplicar a outra cor pra cobrir o tracejado dos desenhos... Em três dias eu deixei meu quarto da forma como eu queria e todas as pessoas que me desencorajaram agora elogiavam e pediam pra fazer o mesmo...
                Depois disso, do nada, resolvi pintar um quadro e novamente me falaram as mesmas coisas, não deveria, que era difícil e pintar pra que? Não dei ouvidos, juntei o dinheiro, comprei todas as tintas possíveis, telas de variados tamanhos e pinceis, fiz meu primeiro quadro sem saber de nada, apenas desenhei e ia pintando e novamente cometi todos os erros possíveis, o quadro ficou um tanto que bom, mas após isso li mais sobre pintura, técnicas e formas de fazer, até que finalmente consegui pintar um quadro com textura no desenho do tecido, enfim, da forma certa...
                Da mesma forma eu aprendi crochê, culinária e outras coisas mais, eu ia tentando, a vontade me vinha e eu ia lá e fazia, errava e aprendia. O que mais me impressionou foi que em todas as vezes as pessoas me aconselharam a desistir, em todas elas as perguntas era pra que isso? Ou desista, não é fácil, não é coisa de homem, não faça... não, não e mais nãos... As pessoas sempre me disseram nãos e eu logo as surpreendia. Então eu pergunto, porque nunca dei ouvido a elas? Talvez se eu tivesse dado ouvido hoje meu quarto ainda seria branco, não teria os desenhos na parede que me acalmam antes de dormir, eu não teria idéia do tamanho da minha criatividade nem teria relaxado depois de um dia de trabalho intenso. Se eu tivesse ouvido os nãos, eu não teria me sujado com as tintas, borrado e tentado consertar e feito efeitos que nem eu imaginava ser possível, eu não teria esquecido da vida naquelas férias, não teria me sujado de tinta, não teria sentido o cheiro da tinta... Acima de tudo, não teria errado e com certeza não teria aprendido.
                As pessoas têm medo de errar e isso faz com que elas se tornem apenas mais um bonequinho que segue a vontade da massa, perfeitos por fora e incompletos por dentro. Cheios de desejos guardados, porque o medo de errar e os ouvidos atentos esperando alguém que os puxe pelo braço e os dê incentivo os forçam a ficar parados e estagnados sendo mais igual a todo mundo.
                Sentir o cheiro da tinta, o nervosismo da duvida sem saber se ia ficar bom, da forma que queria me fez mais forte hoje... Por incrível que possa parecer, coisas simples transformam nosso interior. Sou cercado de nãos por todas as partes, mas aprendi a ignorá-los, avaliá-los, diferenciá-los... Aprendi a não escutar simplesmente, observar, analisar e seguir, aceitar as portas abertas com alegria e abrir uma nova sempre que esta se fecha. As pessoas têm medo daqueles que se destacam, têm medo de ficar para trás, presas nos próprios medos, nas próprias dúvidas enquanto outros se libertam e as deixam para trás, daí o tanto de nãos distribuídos. Às vezes lembro-me do que muitas delas me falaram e noto que na maioria das vezes elas defendiam os próprios interesses, a própria falta de vontade de crescer e observar alguém deixando elas para trás porque estava crescendo sozinho.
                Mas a questão é exatamente essa, não devemos dar ouvidos ao que vem de fora, a nossa verdadeira força de vontade está dentro de nós, um não é simplesmente uma palavra qualquer de três letras quando vem de fora, mas pode ser muito trágico se ela conseguir penetrar no nosso interior e impedir de sermos tudo que poderíamos ser e simplesmente escolhemos não o ser. Podemos ter tudo que quisermos se nos permitimos errar de vez em quando e aprender com os mesmos erros, mas se escutarmos o que vem de fora, talvez nunca saibamos nem quem nós somos.
                A verdade é que devemos esquecer dos outros, devemos, por mais duro que seja, desapegar de quem nos anula, desapegar de quem nos torna igual aos outros e conviver com quem nos faz unos, com quem valoriza o nosso desenvolvimento e acima de tudo, conviver com nós mesmos, aceitar quem realmente somos e desenvolver sempre nosso potencial, acima de qualquer negação que as pessoas nos dêem... Afinal, lembre-se que viver na normalidade é anular todas as possibilidades de respostas das questões mais íntimas. É esquecer-se da possibilidade de que podemos fazer o amanhã diferente do hoje e acima de tudo, é esquecer que nós nascemos para ser únicos. Sempre fale isso para você mesmo, nem que seja sozinho! Temos um potencial infinito que só nos é revelado quando nos afastamos de todos os nãos que nos foram impostos... Permita-se se sujar de tinta sempre!