sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

ARRUMANDO O QUARTO....

... Estava de bobeira, como em um dia habitual, no meu quarto e me senti incomodado com alguma coisa, não sei, mas algo não me agradava. Foi então que percebi  a bagunça ao lado da TV atrás de mim. Alguns mangás, réguas, carregadores, entre outras coisas. Aquilo sempre esteve ali, o tempo todo, mas hoje me incomodava. Então resolvi arrumar! Porque não? Só pôr as coisas nos lugares, tirar essa pilha desajeitada.
            E foi assim que comecei a tirar tudo e aos poucos colocando no chão e organizando. Uma lanterna LED, ainda com a tira da cabeça, acho que não lembrei  de guardá-la. Talvez porque me lembra da viagem que fiz com a turma de agronomia, nossa primeira viagem! Lembra o acampamento, a caminhada, nossos risos. E a gente não gosta de simplesmente guardar as lembranças, não, a gente quer sempre que elas estejam por perto, principalmente quando são de bons momentos, aí dá nisso a gente vai deixando ali pra tá sempre por perto e acaba se perdendo no meio de todas as outras coisas da vida que também esperam pra  serem vividas... Foi então que puxei folhas de papeis, algumas anotações sem utilidades, há muito esquecidas, mas estavam lá, empilhando, talvez lembranças que não conseguia deixar pra trás. Separei numa pilha, tudo que não servia mais e fui colocando ali essas coisas que já não tinham mais significados. Me surpreendi como em um espaço tão pequeno consegui juntar tantas coisas inúteis. Será que faço isso no meu dia a dia? Junto coisas inúteis dentro de mim, pequenas, mas que no fim formam uma pilha enorme de inutilidades?...
            Mas não tinha apenas coisas inúteis, não! Arrumando fui colocando em ordem meus mangás, historias em quadrinhos no estilo japonês, historias que eu cuidadosamente fui colecionando, esperando o próximo capítulo, tentando seguir aqueles personagens criados. Uma besteira talvez, mas todos temos um passatempo! Afinal, o que seria da vida se não fossem as historias que acompanhamos e crescemos vendo-as se desenrolar. Pronto! Aquele canto estava organizado, mas só isso não bastava, havia mais bagunça se acumulando no meu quarto. Meu Deus o quanto eu andei distraído! Quanto tempo eu passei só acumulando bagunça dentro de mim e ao meu redor? Será que eu ainda posso organizar tudo isso? Bem não custa nada tentar não é?
            Comecei a tirar os livros empilhados, organizar outros quadrinhos. Aproveitei que separei os livros dos quadrinhos e, com o espaço que agora estava vazio, comecei a organizar os mangás. Algumas histórias já completas há muito tempo foram colocadas lá atrás, as que ainda estavam em andamento na frente, e a primeira que eu colecionei, bem na frente. Afinal, nossas primeiras historias sempre são as mais valiosas, viram lembranças memoráveis contadas nas rodas de amigos, mas isso não significa que os que ficaram lá atrás foram postos a mercê do tempo para serem esquecidos. Não! A gente sempre faz um esforço pra relembrar de tudo que passa na nossa vida, por vezes temos que tirar o que tá na frente para ver o que está por traz, pensando nisso, sabemos que não serão esquecidos. Como foi gostoso colocá-los em ordem, vendo os números completando-se e me mostrando que eu estive com eles em todos os momentos. Bem em uma das coleções faltava um numero, talvez não tivesse importância antes, mas olhando bem, isso me faz lembrar que por vezes desmereci algo que considerava importante pra não ficar por baixo, no final deu nisso, uma parte da história que eu vou ter que correr atrás para, quem sabe, conhecê-la completa um dia. Pode parecer pouco, apenas um exemplar, mas pense em quantas pessoas afastamos por puro orgulho, perdemos bons momentos que poderíamos ter vivido com elas e quando finalmente vencemos nosso orgulho a história não está mais como antes...
            E agora os livros! Ah! As preciosas historias, aventuras vivenciadas a cada virar de página. Olhei para eles postos em fila indiana, bem comportados. Faltavam alguns espaços. Livros emprestados que, talvez, nunca mais retornem, historias lindas, que agora estão em outros lugares. Penso que se fosse mais cuidadoso teria certeza que todos voltariam para minha mão, mas é comum do ser humano dar mais valor às histórias quando estas não podem mais serem relidas. Mas enfim, sei que alguns ainda voltarão, talvez tenha dado algum valor ainda e agora sei que darei ainda mais. O engraçado é que enquanto ia preenchendo os espaços achei um livro, “A Reliquia”, antigo, acho que ganhei com 16 anos, uma cena me veio à cabeça:
Ao telefone:
            - Filho, to voltando pra casa amanhã de manhã
            - Ta bem pai... Me traz alguma coisa
            - Ta bem, o que você quer?
            - Um livro! Qualquer um!
            - Ta bem, eu levo...
            Era sempre assim, ele sempre trazia, mesmo sem saber o que eu gostava de ler. Nunca li esse livro, pra ser sincero. Ainda preservo ele no plástico. Foi o ultimo livro que meu pai me dera. Depois dali entrei na universidade, calculo, lia outras coisas, procurava contar mais comigo e, antes que eu terminasse essa jornada universitária, ele me deixou. Se eu soubesse que esse seria o ultimo livro que ele me daria, acho que teria feito algo diferente, pra ser sincero acho que teria pedido outros ao longo da vida e lido todos junto com ele. Hoje me pergunto qual seria o próximo se tivesse pedido. Quando o encontrei dei um leve sorriso enquanto uma lagrima descia pelo meu rosto. Ao fundo tocava Adriana Calcanhoto: “Não é fácil, não pensar em você, não é fácil, não te contar meus planos...”. Quando arrumamos uma bagunça, corremos o risco de encontrar coisas que nos arrancarão lágrimas, afinal o coração da gente é muito maior do que o espaço que o aloja...
            Foi assim que olhei pra algo escondido no fundo de um dos espaços, outro livro: “A menina que roubava livros”. Uma historia que só fui até a metade! Acho que todo mundo já parou alguma coisa no meio, não porque não valesse a pena, mas simplesmente porque não nos atraiu, e por mais que tentássemos aquilo não prendia nossa atenção. Quem sabe um dia termine de ler... Mas ao menos ele voltou para o seu espaço. Já não havia mais um espaço vago ali. Por fim, quando tudo já estava terminando achei o meu precioso “o pequeno príncipe”. Foi na simplicidade dele que aprendi o que era cativar. Foi quando descobri que o essencial é invisível aos olhos e que na época eu era jovem de mais para entender o que era amar. Mas hoje sei o quão aquela rosa é única no mundo, fui cativado e cativei várias pessoas. Então para quem me ensinou essa e outras lições, coloquei em um lugar especial.
            Bem, por fim dei um trato nas minhas gavetas, anotações, textos, folhas, mil coisas imprestáveis, empilhadas em cantos que poderiam guardar preciosidades. Tudo para o lixo! Impressionei-me como poderia caber tanta inutilidade em um lugar tão pequeno! Senti-me mais aliviado, o coração mais leve quando joguei tudo fora. Ainda há lugares para serem arrumados, mas sou humano, um passo de cada vez. Olhei para tudo e ainda senti algo estranho. Não era o quarto em si que estava bagunçado, mas eu que estava mudando e meu interior estava tão desorganizado que eu precisava organizar meu coração, achar espaço para as coisas novas e jogar fora tudo que fosse imprestável, tudo que empilhava e o deixava pesado.
No fundo sabemos que quando começamos a arrumar nosso quarto, na verdade, é nosso interior que precisa ser organizado. Porque não aproveitamos que o ano está apenas começando e organizamos nosso quarto, jogamos todas as coisas que não fazem mais sentido no lixo, larguemos aquilo que nos apegamos, mas que hoje só entulha nossa vida. Quem sabe descobriremos que nós temos um espaço muito bonito dentro da gente... É algo para se pensar sozinho!

2 comentários:

  1. Tato-Shaka, muito verdadeiras e bonitas as suas palavras. Só acho que, o que se foi, jamais retornará e não há espaço para os momentos não-vividos voltarem. Os momentos que tentaremos (re)criar serão novos momentos, com significados especiais para eles. Saiba que me cativou. Adoro vc.

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  2. tb te adoro tato-jai! fico feliz que tenha gostado e concordo contigo sobre os momentos, mas só queria levar a esse pensamento!

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